24/05/2011 14h30 - Atualizado em 21/01/2019 15h50

Diversidade cultural é marca do Espírito Santo

Os sons capixabas podem vir da casaca, da concertina e até do trombone. A dança recebe influências italiana, alemã, portuguesa e africana. O Espírito Santo é Congo, Jongo, Ticumbi, Reis de Boi, Pastorinhas, Alardo, tem também o Boi Pintadinho. Tamanha diversidade do folclore forma um surpreendente mosaico.

Para o secretário de Estado da Cultura José Paulo Viçosi, o Frei Paulão, “vivemos em um Estado culturalmente tão diverso, que dispõe de um valioso patrimônio histórico-arquitetônico, e um inegável legado histórico, que se renova diariamente por meio das inúmeras manifestações culturais. Queremos fomentar e dar visibilidade a toda essa riqueza, assim como possibilitar a identificação e o conhecimento das diferentes feições culturais, representativas da nossa diversidade.

E relembra: “o passado expressa bem o meu envolvimento com identidade local e nossas raízes. Quando prefeito de Muqui ajudei a recuperar o patrimônio material, expresso no centenário casario, bem como em seus belíssimos afrescos, expressão ímpar das artes plásticas e da arquitetura histórica em nosso Estado. Trabalhei também com o patrimônio imaterial, e recuperei a tradicional festa de Folia de Reis, bem como todos os grupos folclóricos da cidade, incluindo aí os grupos de Boi, mais de 20 que realizam um carnaval autêntico e original”.

A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) conta com uma publicação chamada “Atlas do Folclore Capixaba”, que consegue reunir todo esse “balaio cultural”.Com base em minuciosa coleta de dados, o livro disponibiliza para o público em geral informações sobre as expressões folclóricas do Espírito Santo. Nele estão reunidos dados sobre saberes, expressões, danças, folguedos, artesanatos, festas populares e tradicionais. Para baixar a publicação basta acessar o link  http://www.secult.es.gov.br/?id=/downloads

Confira aqui um especial com as principais manifestações folclóricas do Espírito Santo

A única publicação nesses moldes data de 1982, ou seja, 29 anos atrás. Foram mais de 300 entrevistas com mestres da cultura popular capixaba, feitas em 56 municípios. Toda a coordenação de pesquisa de campo e texto foi feita pela subsecretária de Estado de Patrimônio Cultural Joelma Consuêlo Fonseca e Silva.

“Realizar a pesquisa de campo através da aplicação de entrevistas a esses mestres nos revelou, além de informações preciosas, a sua luta e predisposição no sentido de manter vivo o elenco de tradições que, para eles, mais do que uma identidade, é um motivo para viver. São especificidades encontradas nos detalhes que acompanham a produção das vestimentas, dos adereços e dos instrumentos e também no cumprimento das obrigações ritualísticas e na produção das festas tradicionais que evidenciam e reforçam a importância destes mestres e de todos os portadores das tradições da cultura popular brasileira”, contou Joelma.

Para o subsecretário de Estado da Cultura, Erlon Paschoal, "um dos traços mais marcantes do Espírito Santo, como sabemos, é a sua formação múltipla, multifacetada, em função das inúmeras etnias que se encontram na base de sua história e de sua configuração enquanto Estado.

Diversidade étnica

Para a historiadora e Coordenadora de Documentos Escritos, Audiovisuais e Cartográficos do Arquivo Público do Estado, Juliana Simonato, a diversidade étnica capixaba tem sua origem marcada pela presença de três elementos distintos: o indígena, o africano e o europeu. “O processo de integração cultural desses grupos étnicos possibilitou a construção de uma identidade marcada tanto pela singularidade, em decorrência das manifestações específicas de cada grupo, como pelo reconhecimento de signos comuns, compartilhados historicamente”, explica.

A colonização das terras capixabas foi marcada pelo desembarque da expedição chefiada por Vasco Fernandes Coutinho no dia 23 de maio de 1535. O contato inicial entre os habitantes das terras capixabas e o colonizador europeu caracterizou-se por relações de animosidade e resistência, em virtude do interesse de ocupação das terras indígenas pelos portugueses.

Contudo, a partir de 1581, com a presença de padres jesuítas, entre eles o Padre Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, foram construídas mais de dez aldeias no litoral capixaba. Os trabalhos de catequização dos índios realizados pelos religiosos proporcionaram também a ocupação e o desenvolvimento econômico por meio de atividades principalmente voltadas à produção agrícola. “O interesse português em tornar as terras capixabas um empreendimento rentável estimulou a expansão do plantio de cana-de-açúcar, fato que incorporou a capitania ao comércio atlântico de escravos, por volta de 1621, quando os africanos passaram a ser utilizados como mão de obra nos engenhos do litoral do Espírito Santo” explica Juliana.

O Espírito Santo passa a receber então um contingente expressivo de escravos que vinham diretamente da África ou eram importados dos Estados limítrofes. Deste modo se verifica também uma variedade étnica entre os próprios africanos, pois faziam parte de diferentes grupos étnicos, de diversas regiões da África.  De acordo com o historiador capixaba Cleber Maciel, em seu artigo sobre as Origens de uma possível cultura afro-capixaba, “tem-se como aceito que a maioria dos africanos que chegaram era, principalmente, da grande etnia Banto, isto é, Angolas e Minas, (...) outras denominações como Cambindas, Benguelas, Caçanjes e Congos. Tanto transferidos de regiões do Rio de Janeiro, Bahia ou Minas Gerais, como especificamente chegados ao território capixaba, diretamente da África até fins do século XIX.

A partir do ano de 1812, segundo dados do Projeto Imigrantes Espírito Santo do Arquivo Público do Estado, o Espírito Santo foi o destino de mais de 50 mil imigrantes oriundos de diversas nacionalidades como a italiana, alemã, pomerana, espanhola, portuguesa, polonesa, holandesa, belga, luxemburguesa, suíça, austríaca, francesa, russa e de outras regiões da Europa. Além dos europeus, o Estado também recebeu imigrantes de outros continentes, como: os sírios, libaneses, chineses, da Ásia; os norte-americanos e até mesmo descendentes de escravos da ilha de Barbados, no Caribe, que entraram no Espírito Santo nas primeiras décadas do século XX.

“Durante o século XIX o Espírito Santo, a exemplo de outros estados do Brasil, recebeu seu maior contingente de imigrantes. De 1874 a 1895 verifica-se o grande predomínio de indivíduos de uma única nacionalidade: os italianos, que respondem por três quartos do total de imigrantes em terras capixabas”, explica o Diretor Técnico do Arquivo Público do Estado, Cilmar Franceschetto.

Com o intuito de resgatar e democratizar informações sobre a história do Espírito Santo, o Arquivo Público do Estado criou em 1995 a Coleção Canaã, projeto voltado para a publicação de obras referentes à história capixaba. A coleção já tem 12 volumes publicados e traz títulos como “Donatários, Colonos, Índios e Jesuítas: O início da colonização do Espírito Santo”, de Nara Saleto, agora em fase de reedição para que seja distribuído às escolas, e “História do Estado do Espírito Santo”, de José Teixeira de Oliveira. O livro “Negros no Espírito Santo”, de Cleber Maciel, também está sendo reeditado, com outros títulos inéditos de grande importância para a História do Estado.

A base de dados do Projeto Imigrantes Espírito Santo e também a versão em PDF dos livros da Coleção Canaã estão disponíveis na página da instituição na internet: www.ape.es.gov.br


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