Folclore

O Atlas do Folclore Capixaba foi elaborado a partir da iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e Sebrae-ES. Tem por objetivo, com base em minuciosa coleta de dados, disponibilizar para o público em geral informações sobre as expressões folclóricas do Espírito Santo.

Foram mais de 300 entrevistas com mestres da cultura popular em 56 municípios. Estão aqui reunidas informações acerca de saberes, expressões, danças, folguedos, artesanatos, festas populares e tradicionais. A pesquisa registrou a ocorrência de, aproximadamente, 280 grupos folclóricos.

Como bem salientaram os autores, a diversidade das expressões culturais é maior que a diversidade das populações, tendo em vista a recriação e a mixagem de hábitos e costumes a partir dos contatos entre povos de origens distintas que ajudaram a colonizar as terras capixabas.

O Espírito Santo tem uma identidade cultural peculiar, caracterizada pela diversidade. Sua gente é um encontro de índios, negros, portugueses e imigrantes italianos, alemães, pomeranos, austríacos, espanhóis, holandeses, suíços, poloneses, libaneses, entre outros. Sua cultura popular é a soma do encontro das variadas expressões desses povos, adicionadas às manifestações surgidas ou reinventadas a partir das interfaces aqui estabelecidas.

Alardo

Com o nome de Bate-flechas ou dança das flechas, a expressão folclórica, de intenção religiosa, louva São Sebastião e São João Batista.

O grupo, formado por homens e mulheres, sem número determinado, se apresenta em terreiro, e pode ser integrado também pelos assistentes. Em geral, a roupa é a comum, mas há os que se vestem como índios, com saias de palmito, penachos coloridos, colares de contas, adornos de pena nos braços e tornozelos.

O instrumental se assemelha ao de uma pequena banda musical, mas alguns conjuntos adotam apenas os tambores.

Cada dançador porta duas flechas que servem para embelezar as evoluções e funcionam como marcadoras de ritmo, acompanhando as batidas de pés.

Boi Pintadinho

No Espírito Santo o grupo de boi pintadinho, bumba-meu-boi ou boi-janeiro é constituído preferencialmente por homens, registrando-se, em uns poucos municípios, a presença de mulheres e crianças. Nos conjuntos masculinos comparecem os travestis, comumente usando máscaras.

O número de participantes é variável, em média quinze a vinte, podendo alcançar quarenta ou mais figuras. Os personagens essenciais são o boi, a mulinha e o puxador de boi (vaqueiro ou toureiro). O boi é construído pelos próprios integrantes, tem como cabeça uma caveira de boi ou sua reprodução em papelão e taquara, revestida com tecido e sempre enfeitada; o corpo, formado por armação de taquara, taquaraçu madeira, é vestido com chitão ou outra fazenda estampada. Em seu interior aloja-se o homem que executa a dança, brinca com a assistência, corre e dá chifrada.

A mulinha tem cabeça de papelão e arcada de taquara recoberta de pano, com um oco destinado ao manipulador, visto apenas da cintura para cima; por vezes apresenta lateralmente duas pernas, fingindo as do cavaleiro montado. O puxador, geralmente com roupas de vaqueiro, puxa a corda que conduz o boi e orienta sua movimentação.

Capoeira

Capoeira, entre outros significados, é luta para os angolenses. Por muito tempo essa foi também, no Brasil, sua principal função, usada como defesa do escravo contra o branco que o perseguia. Mais tarde passou a servir de divertimento (brinquedo) nas reuniões festivas. Com o tempo, perdeu seu caráter de luta, adquirindo uma técnica sistematizada de jogo, chegando a ser motivo para a criação de academias de capoeira, sendo a primeira delas a do mestre Bimba, fundada em Salvador (BA), em 1932.

O conjunto instrumental (berimbau, pandeiros, ganzás, agogôs, adufes, atabaques) acompanha o vocal, possuidor de um repertório de cantigas próprio e/ou emprestado de outras manifestações e conduz o ritmo, apoiando os golpes.

Assim como a música, e ginga, os toques e golpes da capoeira são heranças que sobrevivem, acrescidas de inovações.

Danças Folclóricas

O Espírito Santo recebeu imigrantes de diversas partes da Europa, principalmente da Alemanha e da Itália que, junto com os portugueses, africanos e indígenas aqui residentes deram os traços principais da cultura capixaba.

Os costumes e tradições do povo europeu estão presentes nas montanhas do interior do Espírito Santo nas danças italianas, pomeranas, alemãs, holandesas e polonesas que resistem ao tempo, são transmitidas de geração em geração e renovam-se. Elas foram incorporadas à cultura popular capixaba e suas apresentações são demonstrações de pura alegria. Muitas danças exigem pares, outras são executadas em roda, às vezes se colocam em fileiras. Embora as danças folclóricas sejam preservadas pela repetição, vão mudando com o tempo, mas os passos básicos e a música são sempre semelhantes ao estilo original.

Folia de Reis

A Folia de Reis é um festejo de origem portuguesa ligado às comemorações do culto católico do Natal que, trazido para o Brasil, ganhou força no século 19, nas regiões onde a cafeicultura prosperou, sobretudo nas pequenas cidades de Estados como Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Goiás.

A tradição da visitação das casas é feita por grupos organizados, muitos dos quais motivados por propósitos sociais e filantrópicos. Cada grupo é composto por músicos tocando instrumentos, em sua maioria de confecção caseira e artesanal, como tambores, reco-reco, flauta e rabeca (espécie de violino rústico), além da tradicional viola caipira e da sanfona.

As canções são sempre sobre temas religiosos, com exceção das tradicionais paradas para jantares, almoços ou repouso dos foliões, onde se realizam animadas festas com cantorias e danças típicas regionais, como catira, moda de viola e cateretê.

Jongo

O Jongo envolve canto, dança e percussão de tambores. De origem africana, chegou ao Brasil através dos negros escravos. Está presente tanto no norte do Espírito Santo, nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, como no Sul, em Cachoeiro de Itapemirim, Anchieta e Presidente Kennedy.

Considerado a raiz mais primitiva do samba, difundiu-se nas regiões cafeicultoras, fato que explica a sua existência quase que exclusiva no sudeste do país. Doze mulheres, vestindo blusa branca, saia e lenço azul na cabeça são componentes do Jongo. Fazem parte também três homens, que tocam tambores e um reco-reco.

Pastorinhas

Pastorinhas ou lapinhas são pastoris da noite de natal, figuras tradicionais em muitos lugares que ainda mantém nossas raízes culturais. Com seus arcos e cestinhas de flores bailam diante do presépio do Deus menino. De chapéus de palha enfeitado e vestidas com blusas brancas e saias xadrez ou todas de branco, elas cantam suas melodias alusivas ao evento.

Após a missa saem cantando suas marchas de rua acompanhadas do povo católico, fiéis às suas devoções na pureza de seus sentimentos. Nas casas onde há presépios, param e cantam anunciando o nascimento de Jesus - o Salvador do mundo. Licores e biscoitos são servidos pelos donos da casa. Cantando seus agradecimentos se despedem prosseguindo na divina missão de espalhar a boa nova da chegada do esperado Messias.

Reis de Boi

O Reis de Boi é um auto em homenagem aos Santos Reis. É realizado no ciclo de Natal, prolongando-se até o dia de São Brás, comemorado no dia 03 de fevereiro. É dividido em duas partes: uma de louvação aos Santos Reis e outra de teatralização.

É a expressão folclórica mais popular da região Norte do Espírito Santo, sendo o "Boi" a principal atração. O "vaqueiro" conduz "bichos" apavorantes - componentes do grupo que usam máscaras de lobos, fantasmas, lobisomens, cavalos-marinhos, e outras que fazem parte da memória coletiva. Assim que a bicharada entra em cena, as crianças fogem assustadas e ao mesmo tempo fascinadas. Este misto de medo e fascínio que garante a popularidade da celebração.

Com um bastão é entoada a marcha que rege o sapateado do vaqueiro, que usa roupa velha com paletó pelo avesso, bolso de fora e máscara. Após a exibição, ele pára ofegante, e discursa - conta de onde vem e relata acontecimentos que todos sabem, de forma satírica. Canta-se, então a chamada do "Boi", que entra em cena dançando, fazendo graça, dando voltas e chifradas.

Em alguns grupos, terminada a cantoria, ocorre a morte e ressurreição do Boi. Assim que estrela da festa cai no chão o sanfoneiro puxa a música para que seja feita a divisão do boi. Um coro canta um refrão a cada pedaço vendido. Cada grupo possui a sua própria cantoria. Os instrumentos utilizados são a sanfona e o pandeiro.

Ticumbi

O Ticumbi é um folguedo existente no Norte do Espírito Santo há mais de 200 anos. A cada ano os grupos elegem um tema, representado em seus cânticos, bailados e evoluções. Os passos da brincadeira são coreografados.

A dramatização do auto é simples: o "Reis de Congo" e o "Reis de Bamba", duas majestades negras, querem fazer, separadamente, a festa de São Benedito. Há embaixadas de parte a parte, com desafios atrevidos declamados pelos "Secretários" que desempenham o papel de embaixadores. Por não ser possível qualquer acordo ou conciliação, trava-se a guerra - agitada luta bailada entre os dois rivais. Como é tradição, o "Reis de Congo" consagra-se vencedor, submetendo o "Reis de Bamba" e seus vassalos ao batismo. O auto termina com a festa em homenagem a São Benedito, quando então, os componentes cantam e dançam o Ticumbi.

Para apresentar o Ticumbi, o grupo se veste a caráter. Os integrantes usam longas batas brancas e rendadas, com traspasse de fitas coloridas e calças compridas brancas com friso lateral vermelho. A cabeça é coberta por um lenço branco, um vistoso capacete enfeitado de flores de papel de seda e fitas longas de várias cores. Os reis usam coroas de papelão, ricamente ornamentadas com papel dourado ou prateado, peitoral vistoso com espelhinhos e flores de papel brilhante, capa comprida, e, na mão ou na cinta, longa espada.

O ritmo das encenações é regido por pandeiros e chocalhos de lata, chamados de "ganzás" ou "canzás". A viola dá o tom no momento que os guerreiros cantam.

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