Theatro Carlos Gomes e o tempo: a história por trás das pinturas
Desde sua inauguração, em 1927, o Theatro Carlos Gomes, no Centro de Vitória, é um importante exemplar da arquitetura eclética no Espírito Santo. Em quase 100 anos de existência, várias camadas de história foram acumuladas por meio das pinturas e dos revestimentos do prédio. Por baixo da pintura atual, se escondem pedaços de uma história que está sendo revelada e contada para a sociedade.
Na última semana, durante visita técnica com membros da Secretaria da Cultura (Secult), do Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES), da Prefeitura de Vitória (PMV), da Câmara Técnica de Patrimônio Arquitetônico, Bens Móveis e do Acervo do Conselho Estadual da Cultura (CEC), a Arquistudio Arquitetura e Urbanismo, empresa responsável pela elaboração do projeto técnico de restauro do Theatro Carlos Gomes apresentou a proposta de intervenção, na qual foram feitas prospecções em diversas áreas espalhadas pelo teatro, sendo identificadas durante o processo até 12 camadas de tinta.
Prospecções
Prospecção é uma técnica que busca encontrar vestígios e características que estão por baixo das camadas de pintura e revestimento. As prospecções foram feitas por meio de pesquisas históricas, análises arquitetônicas e investigações em fotografias antigas cedidas pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES). O que foi descoberto mostra que em vários pontos do teatro, como paredes, colunas e fachada, existem camadas de tinta que registram todas as épocas que o Theatro Carlos Gomes já percorreu.
De acordo com o secretário de Estado da Cultura, Fabrício Noronha, o projeto de restauro do Theatro Carlos Gomes tem caminhado muito bem. A visita técnica foi uma etapa importante desse processo, envolvendo o Conselho Estadual de Cultura e a Prefeitura de Vitória. "Ficamos todos muito entusiasmados diante do estêncil descoberto pelas prospecções. É a nossa história ali, sendo revelada em suas cores e formas. Todo capixaba merece ter essa experiência com o teatro reaberto e algumas dessas descobertas expostas”, afirma Fabrício Noronha.
Estêncil
Grande parte das pinturas encontradas nas prospecções do teatro era feita com uma técnica chamada de estêncil, usando um molde vazado para a aplicação de um desenho de forma repetida. Em Vitória, a técnica foi muito usada no final do século 19, feita por artesãos em sua maioria imigrantes italianos. Poucas pinturas permaneceram até o século 20, sendo encobertas por novas camadas de tinta. Algumas edificações históricas presentes na Cidade de Vitória conservam nas suas paredes as pinturas com estêncil: a Capela de Santa Luzia, a Casa Porto das Artes Plásticas, o prédio da Fafi e também o Hotel Magestic.
A suposição de que estas pinturas com estêncil também estariam presentes nas paredes do teatro se deu durante busca por informações encontradas em fotografias datadas de 1928, época em que o teatro foi recém-inaugurado. Elas foram fundamentais para confirmar que existiam pinturas que circulavam por toda a extensão do local.
O futuro
Restaurar a integridade física de um local não é necessariamente retornar ao aspecto original, uma vez que todas as alterações feitas ao longo dos anos também são importantes para a construção da história. Por isso, as decisões sobre o retorno ou não da configuração original das pinturas e revestimentos do Teatro Carlos Gomes dependem de estudos técnicos mais aprofundados e também de diálogos entre a Gerência de Memória e Patrimônio da Secult, dos Conselheiros Estaduais da Cultura e dos responsáveis pela restauração.
A elaboração do projeto de restauro e a modernização do Teatro Carlos Gomes foram pactuadas em junho de 2020, com a assinatura da Ordem de Serviço entre o Governo do Estado, por meio do DER-ES, e a Arquistudio Arquitetura e Urbanismo. A empresa tem até fevereiro de 2021 para apresentar a elaboração do projeto arquitetônico. As outras etapas que dizem respeito a projetos de iluminação, acessibilidade, cenotécnica e modernização serão divulgadas nos próximos meses.
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