01/04/2015 09h10 - Atualizado em 19/08/2016 17h04

Espírito Santo é pioneiro na adaptação e utilização de máquinas para a colheita de café Conilon

A colheita mecanizada do café Conilon vem se tornando uma realidade nas propriedades rurais do Espírito Santo. E o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em parceria com diversas instituição, atuou sobremaneira para que o Estado fosse pioneiro na adaptação e utilização de máquinas para colher Conilon.

Os sistemas para a colheita mecânica mais modernos e disponíveis no mercado foram apresentados na última terça-feira (31) durante o Simpósio de Mecanização da Colheita do Conilon. Com o tema “O manejo da lavoura de café Conilon visando a mecanização da colheita”, o evento teve como objetivo apresentar os resultados obtidos com os testes realizados em diversos sistemas de colheita mecanizada, a fim de que o cafeicultor capixaba conhecesse a opção que mais estivesse de acordo com a sua realidade.

“A cafeicultura de Conilon no Espírito Santo é um caso de sucesso nacional e mundial. Nossa cafeicultura ficou muito grande, em produção e em produtividade, e nós estamos diante de um grande desafio que é disponibilidade e o custo alto de mão de obra para colher todo esse café. E para atender a esta demanda de pesquisa que o próprio café produziu é preciso avançar na mecanização. Seguramente, nós avançamos muito. O uso dessas máquinas representa a sustentabilidade da cafeicultura capixaba. Representa uma saída, uma solução para um dos maiores problemas da cafeicultura de Conilon no Brasil e no mundo”, disse Lúcio Herzog De Muner, diretor-técnico e diretor-presidente interino do Incaper.

A questão da mão de obra é considerada uma das principais dificuldades da cafeicultura de Conilon no Espírito Santo. Na época da colheita, a mão de obra é escassa, cara e, muitas vezes, de má qualidade. “Há quem diga que a mecanização da colheita vai acabar com muitos postos de trabalho, mas isso não existe. Não há mão de obra suficiente para colher os milhões de sacas que produz a região. Há uma diminuição muito expressiva de trabalhadores na agricultura, não existe curso para treinar a ‘apanhar’ café na mão. Os ‘apanhadores’ de café não treinados, muitas vezes acabam danificando e quebrando planta, comprometendo a lavoura e a colheita futura. A mecanização vai ajudar a abrir novos postos de trabalho, mais tecnificados”, pontuou Fábio Moreira da Silva, professor doutor da Universidade Federal de Lavras (Ufla) que coordenou o simpósio.

Para o diretor-técnico da Embrapa Café, Antônio Guerra, “o evento marca o início de uma nova era na cafeicultura de Conilon do Espírito Santo”. O simpósio foi realizado em São Mateus, Norte do Estado. As lavouras de Conilon do município estão sendo preparadas para a mecanização, e alguns produtores da região abriram as propriedades para a realização dos testes. “Colher café com máquina vai dar maior tranquilidade a vocês, que põem comida na mesa da gente. Vai melhorar a condição de cada trabalhador e de quem produz”, frisou o prefeito de São Mateus, Amadeu Boroto.

 

Apresentações técnicas

Em torno de 300 pessoas estiveram no evento, que contou com a presença de participantes de diversos estados brasileiros. As palestras técnicas foram abertas pelo pesquisador do Incaper e coordenador do programa estadual de cafeicultura, Romário Gava Ferrão, que traçou um panorama a respeito da cultura do café Conilon no Espírito Santo e no Brasil. “O Espírito Santo tem uma das cafeiculturas mais competitivas do mundo. É o único Estado brasileiro com uma cafeicultura expressiva tanto de arábica quanto de Conilon. O grande desafio, foco deste evento, é a mecanização. Mas os experimentos estão em campo, as avaliações estão sendo feitas dentro das propriedades rurais. E esse é um passo importante rumo à qualidade e à sustentabilidade da cafeicultura de Conilon capixaba”, disse. Ferrão também apresentou os resultados das pesquisas em cafeicultura de Conilon desenvolvidas pelo Incaper no Espírito Santo.

O engenheiro agrônomo José Sebastião Machado Silveira destacou aspectos técnicos e metodológicos dos testes feitos para implantação da colheita mecanizada com o sistema automotriz. “Os testes com a colhedeira de arábica têm se mostrado promissores para o Conilon. Mas não é só a derriça. Como fica a lavoura depois? É importante observar as características que o cultivo de Conilon possui. Na colheita manual, não preciso me preocupar com vários aspectos. Mas na colheita mecanizada, eu tenho que me preocupar”. Ele mostrou as preocupações e sugere recomendações do preparo de solo, implantação da lavoura, manejo da planta e do solo, visando maior eficácia na colheita mecanizada.

Representantes das empresas fabricantes das máquinas apresentaram seus produtos. “O rigor científico nos dá uma segurança muito grande. Mas é necessária uma mudança de mentalidade do cafeicultor, e uma mudança no modelo da cafeicultura no Espírito Santo. As lavouras devem ser preparadas para colher com máquina. Estive visitando recentemente lavouras de Conilon no Equador e verifiquei que naquele país, também há problemas de mão de obra para a colheita do café. Isso parece um problema mundial, o caminho é correr atrás da tecnologia para mecanizar a colheita”, disse Walmi Gomes Martim, engenheiro agrônomo representante de uma das empresas fabricantes de colhedeiras. Alguns equipamentos foram adaptados de outras culturas. Uma das máquinas era colhedora de uva. Posteriormente, foi ajustada para a colheita de azeitona e agora, foi desenvolvida para a colheita de café.

Os resultados das pesquisas em colheita mecanizada de Conilon foram apresentados pelo Professor e Doutor da Ufla, Fábio Moreira da Silva. “A agricultura se pautou em duas fontes de potência: a humana e a animal. Isso até 120 anos atrás, quando surgiu o motor a diesel. Passou-se, então, a comparar a potência do motor com os animais que trabalhavam na época, e nós ainda usamos muito isso. Quando se fala em motor de 50cv, é que o motor trabalha o equivalente à potência de 50 cavalos. E mais, existem vários fatores de produção: terra, semente, adubo, defensivo. Mas se não tiver quem faça o trabalho, não adianta. O principal fator de produção é o homem”, defendeu.

O coordenador do simpósio apresentou, ainda, as vantagens que a colheita mecanizada traz à cafeicultura de Conilon no Estado. “Dá pra tocar o café com um trator de baixa potência, que consome menos combustível, tem uma manutenção mais em conta. Essas operações são mais baratas, e a redução de custos pode chegar a 69%”, acrescentou. Os estudos analisaram diversos aspectos inerentes à colheita do Conilon: o desempenho das lavouras por hectare, os custos de produção e as características da planta, como número de hastes, uniformidade de maturação e até a força necessária ao desprendimento dos grãos, foram observados.

Diretrizes

De acordo com as apresentações técnicas, é possível colher o Conilon com máquinas desde que as lavouras sejam conduzidas de maneira adequada. Um debate foi organizado para a elaboração das diretrizes e propostas de manejo do Conilon visando a mecanização a colheita. O pesquisador do Incaper responsável pelos estudos, José Antônio Lani, abriu as discussões, seguido de Nivaldo Souza Ribeiro, produtor rural de Minas Gerais e empresário do ramo de locação de máquinas agrícolas. “Estou feliz de ver a pujança do Conilon e como o Estado, por meio do Incaper, se dedica a vocês, produtores. Máquina não é tudo. O elemento humano ainda é muito importante, e a pessoa deve ser preparada para usar a máquina com sensibilidade para cuidar do cafezal. O maior patrimônio de vocês é o pé de café”, concluiu.

Assessoria de Comunicação – Incaper
Juliana Esteves - juliana.esteves@incaper.es.gov.br 
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Texto: Juliana Esteves
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