“Adquira seus confetes”! Jornais do século XIX anunciam o carnaval
“Estão próximos os dias para os divertimentos carnavalescos, preparem seus bons trajes e ginetes para os passeios mascarados e os competentes bailes. Alerta rapaziada! Alerta! Entusiasmo e mais entusiasmo. Não desanimem” comunica o jornal Correio da Victoria em 1871. Por meio do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), do qual o periódico faz parte, pode-se conhecer um pouco mais as características dos carnavais que agitavam Vitória e envolviam os moradores nos desfiles, nas compras das fantasias e nas serpentinas dos salões.
Anselmo Gonçalves, no livro "Carnaval Cem Anos” explica que no final do século XIX as comemorações ocorriam no Centro da cidade, com destaque à Rua do Rosário e à Sete de setembro. Nesses espaços ficavam também as vendas cheias de novidades para os moradores se arrumarem para a festa. Nos dias que antecediam os eventos as lojas publicavam a chegada de adereços, até mesmo provenientes de Paris. Um anúncio de 18 de fevereiro de 1870, por exemplo, traz a seguinte informação: “A Fama da Barateza recebeu no último vapor máscaras de arame, seda, papelão (com barba), assim como calças de meia, cor de carne, com pé”. Nas datas próximas divulgava-se também a programação da festa.
O carnaval do Centro, com fitas douradas e roupas de luxo, contrastava com o "carnaval periférico", que ocorria na Cidade de Palha, hoje Vila Rubim. No local ocorriam guerras de mamonas (fruto do mamoeiro) e era comum que as brincadeiras se transformassem em brigas mais acirradas. Segundo o autor havia o desfile das carroças, que saía da Rua do Rosário e alcançava, a São Francisco, na Cidade Alta. Dois principais clubes animavam a capital, o Indiano e o salão da Rua da Alfândega, no qual, conforme diz: "(...) com capacidade para 200 pessoas e exigências de fantasias de dominó, pierrot, príncipes, marinheiros e a banda Caramurú, disputavam a frequência dos carnavalescos".
O artigo “Passeio Mascarado”, publicado no Correio da Victoria em 13 de fevereiro de 1870, permite trazer à cena as lembranças desses carnavais. Afirma-se que “Dom Guido” e “Dom Sancho Pança” sairiam, às 14 horas, anunciando com seus clarins a reunião para o início das festas. Às 15 horas todos os “senhores máscaras” deveriam se dirigir decentemente vestidos à casa da Rua São Francisco para subirem em passeio pela cidade. O “baile masquê” seria às 20 horas. No outro dia os “divertimentos mascarados” durariam das 9 às 18 horas, com baile à noite. Já no dia 1º de março ocorreriam passeios com músicas e o enterro dos ossos com o “Deus Momo” pelas ruas. O baile principiaria às 21 horas com término às 5 da manhã, com a dança “galope infernal”. No Sábado de Aleluia e no Domingo da Ressureição ocorreriam diversões com máscaras e bailes, finalizando o Carnaval.
Jória Motta Scolforo
Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
3636-6117
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