22/05/2023 14h53

Funcultura: Clubes de leitura coordenados por mulheres quilombolas encerram atividades com apresentação de resultados

Com atrações culturais gratuitas nesta sexta-feira (26) e no sábado (27), os clubes de leitura sobre o romance “A brecha, uma reviravolta quilombola”, chegam ao fim e os participantes estarão no Encontro dos Clubes de Leitura com Entidades Parceiras – Apresentação de Resultados e Encaminhamentos, na Biblioteca Hermógenes Lima da Fonseca, no Parque Estadual de Itaúnas, Conceição da Barra.

Realizados com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 018/2021, da Secretaria da Cultura (Secult), os clubes de leitura aconteceram em Itaúnas e foram coordenados por mulheres quilombolas, como parte do projeto “Uma Brecha para Outras Narrativas”, que tem como proponente Jefferson Gonçalves Correia.

A iniciativa tem como objetivo promover reflexões sobre as temáticas abordadas no livro e estimular os participantes a fazer um produto final, que pode ser uma peça teatral, um conto, um novo final para a história lida em grupo ou qualquer outra iniciativa que a pessoa quiser propor.

Neste sábado (27), os participantes dos clubes de leitura vão se encontrar com entidades parceiras a fim de apresentar algumas produções e fazer encaminhamentos. Em cada clube as facilitadoras estimularam os participantes a criar uma produção literária ou teatral sobre a experiência de leitura e debate, suscitando assim diferentes memórias, abrindo uma brecha para outras narrativas.

Em preparação para os clubes de leitura, foram realizadas, nos dias 4 e 5 de janeiro, oficinas de literatura e teatro na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Benônio Falcão de Gouveia, em Itaúnas, com grupos de professores, contadores de história, mestres de Ticumbi, mestres de Reis de Bois, entre outros.

Nessas atividades foi trabalhado o conceito de oralitura, fazendo a convergência entre a linguagem escrita, cantos e contos, tendo em “A brecha, uma reviravolta quilombola” um dos instrumentos para impulsionar as produções durante as oficinas.

Livro

O romance “A brecha, uma reviravolta quilombola” apresenta a cultura das comunidades quilombolas do Sapê do Norte, que abrange os municípios de São Mateus e Conceição da Barra, contemplando sua história, conflitos e resistências. Os coautores do livro, lançado pela editora Estrela Cultural, são a escritora e antropóloga Deborah Goldemberg, o cientista social Jefferson Gonçalves Correia e o embaixador de Rei de Congo do Ticumbi de São Benedito, Arquimino dos Santos.

A narrativa apresenta o encontro entre um adolescente chamado Fred, morador de Vitória, e Viriato, um garoto quilombola, que se conhecem quando o menino da cidade vai passar as férias no sítio do avô. No decorrer da história, é apresentada a riqueza cultural do povo do Sapê do Norte, que abrange mais de 30 comunidades, o descaso do poder público, os ataques a esse grupo e sua resistência. Também aborda o Ticumbi, manifestação cultural de Conceição da Barra, protagonizada por negros da região e que existe somente nesse município.

A publicação foi lançada inicialmente de forma on-line, na Bienal Virtual do Livro de São Paulo, em 2020, devido à pandemia da Covid-19 – sendo posteriormente lançado em formato físico. No ano seguinte, foi um dos cinco finalistas do 63º Prêmio Jabuti, na categoria juvenil. Em 21 de janeiro também houve um lançamento na Praça de Itaúnas, em Conceição da Barra, dentro da programação da tradicional Festa de São Benedito e São Sebastião.

 

Atrações culturais gratuitas

O encerramento dos clubes de leitura contará com apresentações culturais gratuitas abertas ao público. A primeira acontece nesta sexta-feira (26), na praça de Itaúnas, às 20h, com a apresentação do espetáculo teatral “Caburé”, que tem como história central a do Quilombo de Negro Rugério, que conseguiu sobreviver por muito tempo se sustentando principalmente a partir da farinha de mandioca, principal produto da região, que tinha e ainda tem nos quilombolas uma referência de excelência na produção. A peça tem como alguns de seus cenários o quilombo, o mercado, o porto, as fazendas e os caminhos de fuga criados pelos escravizados.

A preparação econômica, bélica e espiritual para conquistar a liberdade dos escravizados é uma das tônicas da obra, que promete provocar grandes emoções no público, além de apresentar como personagens alguns dos mais destacados heróis da resistência à escravidão no local, cujas memórias foram guardadas pela oralidade das comunidades quilombolas e hoje são reverenciadas Brasil adentro. Caburé tem no elenco Didito Camillo, Danilo Lopes, Fábio Cícero e Fabíola Guimarães.

No sábado (27), das 9h às 17h, na entrada do parque, ocorrerá a Caravana Combiousa com editora e espaço cultural Itinerante. A Combiousa é inspirada nas caravanas e grupos mambembes, artistas que iam de carroça de povoado em povoado, até chegarem os veículos motorizados atuais. Carrega consigo, além de muitos livros, uma estátua do cavaleiro andante Dom Quixote. A caravana e seus diversos projetos já passaram por mais de 20 cidades capixabas e distritos rurais. De assentamentos a universidades, de praças a salas de aulas, sempre levando livros, saraus e filmes, sendo indicada ao Prêmio Candango de Literatura como melhor projeto de leitura da lusofonia em 2022.

Às 15h, também no parque, acontecerá a exposição “Totens”, de Henrique Selva, artista mineiro residente há um ano em Conceição da Barra. Sua pesquisa artística procura refletir sobre a espiritualidade manifesta na natureza e nas ancestralidades dos povos originários, indígenas e quilombolas brasileiros. A exposição é uma introdução a um universo a ser redescoberto, em busca do “futuro ancestral” indicado por Ailton Krenak. Na abertura da exposição o artista pintará um quadro ao vivo.

A programação finda com o Cineclube da Caravana Combiousa exibindo o filme “Contestado, a guerra sem tiros”, às 20h. Com duração de 1h20, direção e roteiro de Cloves Mendes, a obra é uma história esquecida de disputa pela terra entre capixabas e mineiros.  O litígio durou 100 anos. Somente em 1963 os governos assinaram o acordo da paz na região no distrito de Bananal, onde está o marco da fronteira entre Mantena (Terra Boa) e Barra de São Francisco (Sentinela Capixaba).

 

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