Igreja dos Reis Magos recebe obras para conservação
Um dos bens culturais mais preciosos para o Espírito Santo ganhará do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) mais uma obra de conservação. A Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, no município da Serra, construída entre 1580 e 1615, receberá investimentos de aproximadamente R$ 720 mil. A ordem de serviço, que também contempla a residência, foi assinada nesta quarta-feira (14), às 10 horas, pela presidente do Iphan, Kátia Bogéa, em cerimônia que contou com a presença do governador Paulo Hartung, e do prefeito da Serra, Audifax Barcelos.
“Essa é uma obra muito importante que nós capixabas ainda não temos a profundidade, a consciência do que representa um patrimônio como este. O capixaba conhece pouco a própria história. Precisamos romper essa limitação. Aprendemos desde cedo que um povo precisa conhecer o seu passado, história e trajetória, até para que os erros do passado não sejam repetidos no presente”, ponderou o governador Paulo Hartung.
Serão realizadas ações no telhado, nas alvenarias, nas esquadrias, pisos, forros e substituição de equipamentos hidráulicos. Também será feita a recomposição de piso do pátio e da Igreja, a substituição de elementos elétricos e a realização de intervenções em elementos artísticos, como a higienização mecânica do quadro “Adoração dos Reis Magos”. A obra está prevista para ficar pronta em 10 meses.
A presidente do Iphan, Kátia Bogéa, destaca que a igreja é um dos símbolos da presença jesuíta no Brasil. “Esta edificação secular, por sua excepcionalidade, está inscrita nos livros de Belas Artes e Histórico. Manter viva essa memória exige permanente atenção por parte de toda a comunidade e dos poderes públicos”, afirma.
A obra de conservação tem como objetivo garantir a manutenção e a proteção dos elementos arquitetônicos e artísticos do Patrimônio Cultural tombado pelo Iphan em 1943, para que o bem possa ser usufruído por toda a comunidade e pelos turistas que visitam a cidade.
O prefeito Audifax Barcelos destaca a importância do bem. “A Igreja e Residência dos Reis Magos é um dos mais importantes símbolos do Estado e da Serra. É o segundo ponto turístico mais visitado do Espírito Santo. Além de ajudar a contar parte da história da cidade, atrai visitantes e gera renda para o município. A conservação desse patrimônio é um marco e deve ser comemorada”.
Patrimônio Cultural conservado
No município de Anchieta, o Iphan também está com obras em andamento. O Santuário Nacional de São José de Anchieta será totalmente restaurado. O museu do Santuário do século XVI, um dos mais antigos monumentos católicos do País, irá passar por obras de acessibilidade e ganhar rampas, plataformas elevatórias, banheiro adaptado, além de sinalização em braile. A intervenção tem o propósito de democratizar o acesso às salas do museu, como a histórica Cela de São José de Anchieta. O local receberá projeto museográfico de organização do acervo, que contempla investimentos na climatização, telhado, iluminação, comunicação, sonorização e restauro de peças.
Na segunda etapa da obra, serão executados o restauro da Igreja, a montagem da sala de documentação e estudos e o paisagismo na área do entorno do Santuário. O projeto, contratado pelo Iphan, será executado pelo Instituto Modus Vivendi. A primeira etapa conta com patrocínio da Vale, que investirá R$ 5,6 milhões, via lei Rouanet.
Herança Jesuíta no Espírito Santo
No Estado, além do aspecto religioso, a passagem jesuítica teve significativo papel na educação e no empreendedorismo. Fundaram o Colégio de São Tiago (atual Palácio Anchieta), em Vitória, e as aldeias de Reis Magos, em Nova Almeida, e de Reritiba, em Anchieta, além das fazendas de Muribeca, em Presidente Kennedy; Itapoca, na Serra, e Araçatiba, em Viana.
As fazendas garantiam a subsistência do Colégio e a continuidade de seus trabalhos, assegurando-lhe independência autárquica, além da função específica de ensino. Elas tiveram importante influência na vida econômica da capitania ao se tornarem os mais importantes centros de produção da época.
A herança dos jesuítas também é relevante no conjunto arquitetônico do patrimônio histórico no Estado, sendo quatro os bens considerados Patrimônio Cultural Brasileiro: a Igreja de Nossa Senhora da Assunção e Residência, em Anchieta; a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari; a Igreja dos Reis Magos e Residência, na Serra; e a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Viana.
Existem outros três bens tombados pelo Conselho Estadual de Cultura: a Igreja de São João de Carapina, na Serra; a Igreja de Nossa Senhora das Neves, em Presidente Kennedy; e o Palácio Anchieta, em Vitória. Contudo, dentre os vários aldeamentos jesuítas por todo o Brasil, a dos Reis Magos impressiona por ser um dos poucos conjuntos sem muitas alterações ao longo de quatro séculos.
O pároco da cidade, Frei Diniz, destacou a importância que as obras de conservação representam para a população da Serra. “Vamos celebrar essa iniciativa e demonstrar que valorizamos e estamos cuidando desse bem cultural que está em nossa cidade, mas é patrimônio do Brasil”, concluiu.
Jesuítas e o Patrimônio Cultural Brasileiro
Criado em 1937, com a finalidade de promover a preservação do patrimônio cultural do Brasil, o Iphan incluiu o expressivo legado jesuítico em suas primeiras ações de proteção e conservação. Foram 11 tombamentos logo em 1938, entre os quais a Catedral Basílica de Salvador (BA), o Seminário de Olinda (PE), a Capela de São Pedro d’Aldeia (RJ), o antigo Colégio de Paranaguá (PR) e as ruínas da igreja de São Miguel (RS). Paralelamente aos acautelamentos pioneiros, foram realizados detalhados estudos sobre a contribuição dos jesuítas nas artes plásticas e arquitetura.
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