Internos capixabas têm bom desempenho em disputa de xadrez com detentos norte-americanos
A decisão do “Intercâmbio Internacional de Xadrez” entre internos capixabas e norte-americanos ficou para os últimos minutos. A disputa foi acirrada, mas no final os detentos da Cook County Jail, de Illinois, Chicago, acabaram levando a melhor.
Na primeira rodada, houve empate, com dois pontos para cada lado. Com isso, o resultado foi decidido na segunda rodada, em que os norte-americanos conseguiram superar os detentos capixabas, fechando o placar em dois pontos e ½ e contra 1 e ½.
Cada jogador realizou duas partidas de 15 minutos contra o mesmo oponente, realizadas por meio de uma plataforma on-line. Os jogos foram realizados na Escola Penitenciária do Espírito Santo (Epen), em Viana, e contaram com o apoio da Confederação Brasileira de Xadrez.
Estiveram presentes o secretário de Estado da Justiça, Walace Tarcísio Pontes, a gerente de Educação e Trabalho da Sejus, Regiane Kieper do Nascimento, o diretor da Epen, Rodrigo Bernardo Ribeiro Pinto, o presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, Darcy Lima, além de servidores da Sejus.
Os internos que participaram do intercâmbio fazem parte do projeto “Xadrez que Liberta”, realizado desde 2008 pela Secretaria de Estado da Justiça (Sejus). Representaram o Estado os detentos Thiago de Oliveira Souza, 29 anos, e Charles de Souza Venâncio, 33 anos, da Penitenciária Agrícola do Espírito Santo (Paes), e Paulo Henrique Querino Muniz, 26 anos, e Belix Bento Pereira, 26 anos, do Centro de Detenção Provisória da Serra (CDPS).
Thiago contou que joga xadrez desde os 15 anos, mas nunca havia participado de uma competição do esporte. Ele começou bem, conquistando uma vitória e um empate. “Fiquei nervoso, mas fiquei feliz com o resultado. Estou há um mês no projeto e já aprendi bastante. O xadrez é pouco divulgado no Brasil, mas é um jogo que ensina muito, principalmente, a pensar antes de tomar alguma atitude”.
O interno Paulo Henrique também descobriu o gosto pelo xadrez, que conheceu dentro do sistema prisional. No intercâmbio, ele venceu as duas partidas que disputou. “Sou apaixonado pelo jogo. Vi outros internos jogando, me interessei e virou meu passatempo preferido. Aprendi a ter cautela, a pensar antes de agir para não tomar um xeque-mate na vida. Meu sonho é participar de um torneio mundial”.
O secretário de Estado da Justiça parabenizou os internos pelo desempenho no intercâmbio e ressaltou os benefícios do projeto para os detentos do sistema prisional.
“O esporte é uma ferramenta que leva à reflexão e contribui para o processo de ressocialização. Mesmo tendo menos treinamento do que os internos americanos, os detentos capixabas tiveram bom desempenho e puderam colocar em prática o que aprenderam no projeto”.
O presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, Darcy Lima, destacou que o intercâmbio foi muito disputado e também elogiou os internos capixabas.
“Os jogadores americanos têm muito mais tempo de treino e já conheciam a plataforma. O resultado dos internos capixabas surpreendeu positivamente, sinal do grande engajamento deles com o projeto. Mas o mais importante não é a derrota ou a vitória, são os resultados que o projeto tem conquistado, que mostram que esse esporte pode ser uma ferramenta de sucesso para auxiliar em questões sociais, trazendo ganhos positivos para a sociedade”.
Lima contou, ainda, que a iniciativa capixaba serviu de modelo para projetos do Ceará e do Pará e também para o exterior, chegando a países como El Salvador, Panamá e Guatemala. Além disso, em julho, a experiência no sistema prisional capixaba será levada a Chicago, nos Estados Unidos.
Xadrez que Liberta
Atualmente, o projeto envolve 160 detentos, de seis unidades prisionais: Centro de Detenção Provisória da Serra (CDPS), Penitenciária Agrícola do Espírito Santo (Paes), Centro de Detenção Provisória de Guarapari (CDPG), Centro de Detenção Provisória Feminino de Viana (CDPV), Centro de Detenção Provisória de Vila Velha (CDPVV) e Penitenciária Estadual de Vila Velha II (PEVV II).
Eles têm aulas uma vez por semana supervisionadas por inspetores prisionais capacitados pela Confederação Brasileira de Xadrez.
Em 2012, a iniciativa foi eleita o melhor projeto socioesportivo do ano, no prêmio Spirit of Sports, concorrendo com 140 projetos de diversas modalidades esportivas e de diversos países. A premiação é concedida pela Sportaccord, órgão que reúne federações esportivas internacionais como a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o Comitê Olímpico Internacional (COI). O prêmio Spirit of Sports foi criado, em 2002, como forma de reconhecimento ao compromisso e ao espírito humanitário dos membros da Sportaccord que utilizam o esporte como ferramenta para a mudança social.
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Texto: Bruna Pereira