08/03/2017 10h54 - Atualizado em 08/03/2017 11h31

Maria Antonieta Tatagiba e a literatura feita por mulheres

Atualmente, textos literários feitos e assinados por mulheres fazem parte do cotidiano e são lidos em todo o mundo. Nesta quarta-feira (08), que marca o Dia Internacional da Mulher, é importante lembrar que no passado houve o esforço e a atuação das pioneiras na busca por espaço para a exposição das suas ideias. A poeta capixaba Maria Antonieta Tatagiba, por exemplo, alcançou na década de 1920 um sucesso inimaginável para uma escritora. Na revista “Vida Capichaba”, que faz parte do acervo do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), é possível conhecer os seus escritos e a forma como as suas ações proporcionaram visibilidade e novos caminhos para as mulheres da época.

Nascida em São Pedro de Itabapoana, Mimoso do Sul, em 1895, Maria Antonieta Tatagiba foi nomeada para dirigir uma das escolas mistas no município. Concluiu em 1916, no Ginásio Espírito-Santense, o curso de Humanidades. Publicou poemas e crônicas em jornais e revistas do Espírito Santo e também do Rio de Janeiro e foi uma das primeiras mulheres capixabas a reunir, em um livro, suas produções poéticas, sob o título “Frauta Agreste”. Com a morte do pai ela teve que assumir as responsabilidades financeiras da família, fazendo com que desistisse de seguir carreira na medicina, sua vontade inicial, voltando-se às letras e ao magistério. Seu nome consta no quadro de “Honra ao Mérito - Intelectualidade Feminina Espírito-Santense” publicado na revista “Vida Capichaba” em 1928.

A historiadora Lívia de Azevedo Silveira Rangel, na dissertação de mestrado “Feminismo Ideal e Sadio: os discursos feministas nas vozes das mulheres intelectuais capixabas”, afirma que as capixabas exploraram as possibilidades fornecidas pela mídia impressa para dar amplitude aos seus projetos e expectativas. A “Vida Capichaba” foi o principal veículo no qual esses debates se desenrolaram, trazendo um considerável número de artigos, notas e ensaios que abordavam o direito ao voto, o acesso ao trabalho e à educação. “A minha pesquisa teve por objetivo tornar menos invisíveis essas ações e as falas dessas mulheres nas letras, na política e, sobremaneira, na luta pela emancipação feminina” destaca Lívia.

Segundo a autora, a produção poética de Maria Antonieta Tatagiba lhe possibilitou superar as expectativas de uma vida comum - não seguindo o destino da maioria das mulheres dos anos iniciais do século XX, para as quais o casamento e a maternidade eram ditos como opções naturais e únicas - consagrando-se na elite das letras capixabas. De acordo com Lívia Rangel a poeta não se furtou em emitir opiniões contundentes para deixar registrado, em mais de uma página do periódico, uma opinião bem articulada sobre como julgava os progressos do feminismo.

Em entrevista à revista, em 1925, Tatagiba aborda a sua visão sobre as percepções tradicionalmente voltadas ao feminino: “Com ódio ou temor dizem, em frases cheias de mel, coisas, na verdade belas, mas sem efeito na vida real: a mulher é um manancial de nossa felicidade, é uma criatura quase divina, que não deve viver a não ser no ambiente puro da família, é um anjo, é uma deusa, é o sol de nossa vida. Tudo isso seria muito belo, agradaria à fantasia, entusiasmaria as almas sentimentais, mas não melhoraria a situação da mulher na sociedade”. Finalizando sua análise, Tatagiba argumenta: “Deixem que as mulheres lutem e trabalhem, nem todas se casam, nem todas possuem um lar, nem todas se acham ao abrigo das necessidades, a essas que provem a subsistência com o labor das próprias mãos, o nosso carinho e o nosso respeito, porque enobrecem, exaltam as virtudes e elevam a dignidade”.

Para Lívia Rangel essas escritoras pioneiras - cujas ideias consideradas ousadas chocaram e proporcionaram transformações - desafiaram as relações de poder, contribuindo para a gradativa redefinição dos papéis de gênero dentro da nova sociedade urbanizada e no interior da própria instituição familiar. Pode-se afirmar que as suas experiências de luta, enfrentamento, autoconhecimento e afirmação da conquista de direitos enriqueceram e modificaram a história das mulheres no Espírito Santo.

Jória Motta Scolforo

Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

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