Mulheres do Incaper falam sobre o trabalho com as mulheres rurais capixabas
A atenção que o Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) dedica às mulheres rurais do Espírito Santo vai muito além das comemorações pelo Dia Internacional da Mulher. O Instituto reconhece a importância da atuação das mulheres para o desenvolvimento rural capixaba e oferece atendimento diferenciado a elas.
O protagonismo das mulheres entre os mais de 42 mil agricultores familiares atendidos pelo Instituto é digno de destaque e relevância. E o Incaper realiza ações específicas voltadas para o público feminino em diversos municípios capixabas. A servidora Cristiana Barbosa, economista doméstico do Incaper de Anchieta, destaca que o papel da mulher é fundamental para o desenvolvimento da agricultura familiar.
“Historicamente, as mulheres desempenham papel imprescindível nas atividades e nas relações rurais. São aquelas que ressignificam saberes, conhecimentos e experiências que contribuem para melhorias da vida no campo. Elas estão presentes em todas as etapas das atividades rurais, sejam agrícolas e não agrícolas (produção, processamento e comercialização). Estão presentes nas organizações rurais, no cotidiano das comunidades onde residem. São atuantes nas atividades domésticas, da casa, dos cuidados com a família, com as filhas e filhos e também nas atividades tidas como de produção. Precisamos compreender que todas essas esferas são trabalho e, portanto, são produtivas, embora as atividades domésticas sejam invisíveis e não consideradas como produtivas”, diz.
Muitas das ações desenvolvidas pelo Incaper são conduzidas por mulheres. O Instituto possui 164 delas em seu quadro de servidores, 24 em cargos de liderança. “Trabalhar com mulher sendo mulher é uma dádiva, principalmente com um público carente de ações que valorizam e reconhecem sua importância no meio rural. A agricultura, há mais de dez mil anos atrás, foi iniciada por nós mulheres. Ao olhar ao nosso redor, tudo que gera, nutre e reproduz a vida tem essência feminina. E com o passar dos anos pelas mudanças da sociedade essa essência foi perdida, mas a mulher continua na luta sendo protagonista de várias ações de sucesso em diversas áreas”, disse Suely Ferreira da Cruz, extensionista do Incaper que atua em Rio Novo do Sul.
Para a extensionista, “apesar da limitação que nos é imposta, estamos construindo um modelo de extensão mais participativa, paritária e emancipadora para as mulheres, contribuindo para o desenvolvimento sustentável dos espaços rurais”, completa.
Suely da Cruz também lembra de alguns dos trabalhos voltados para a mulher rural do município. “Em 2014, decidimos fazer o primeiro encontro de mulheres para abordar questões relativas à saúde, aposentadoria rural e sexualidade. Ficamos surpresos, pois não esperávamos que tivéssemos mais de 100 mulheres no encontro. Em 2016, o segundo encontro abordou políticas públicas, agroecologia e uma palestra motivacional sobre autoestima. Nesse evento decidimos mudar a dinâmica do evento e colocar oficinas sobre diversos temas, como artesanato, culinária e maquiagem. Em 2017, o terceiro encontro discutiu sobre resíduos e sustentabilidade, alimentação e o PNAE, além de oficinas e teve brindes no final. No encontro de 2018, foi falado sobre a importância da mulher na diversidade produtiva da propriedade e sobre jardins sustentáveis”, explica.
A extensionista também conta que o Encontro de Mulheres Rurais de Rio Novo do Sul de 2019 já está sendo organizado. “Gostaria de ressaltar, que toda essa ação foi feita em parceria com as associações rurais, sindicato dos agricultores, Sicoob Sul, Secretaria Agricultura de Rio Novo do Sul e de muitas pessoas como palestrantes, na sua maioria mulheres que tiraram seu tempo para falar de suas experiências. Sem parcerias nada acontece”, acrescenta.
Além de Rio Novo do Sul, há outros municípios capixabas que desenvolvem ações em comemoração ao dia Internacional da Mulher. Recentemente, o Incaper, a Prefeitura de Anchieta, o Sindicato de Trabalhadores/as Rurais de Anchieta e Piúma, e a Escola Família Agrícola de Olivânia (Mepes) se mobilizaram no evento “Mulheres Rurais de Anchieta Rumo à Marcha das Margaridas”. Na ocasião, foi apresentado um painel explicando o que é a Marcha das Margaridas, e abordando a importância da participação das mulheres nesta ação. Em Itapemirim, a economista doméstico Angélica Carvalhais de Oliveira ministrou uma palestra com o tema "Trabalhadora rural" na sede o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município.
Agricultura familiar
A atenção dada pelo Incaper às mulheres rurais é fundamental para o desenvolvimento da agricultura familiar capixaba. “As mulheres rurais são responsáveis por grande parte da produção de alimentos do mundo, no Espirito Santo não é diferente. Elas contribuem com a preservação da biodiversidade, as mulheres rurais são as guardiãs das sementes, são as precursoras e mantenedoras das sementes desde o início dos cultivos na agricultura em seus diferentes contextos socioculturais. São as mulheres rurais que garantem a soberania e a segurança alimentar dos povos”, lembra a economista doméstico do Incaper Cristiana Barbosa.
Ela destaca ainda a importância do trabalho do Incaper com as mulheres rurais. “Parte significativa das mulheres rurais ainda enfrenta restrições para acesso às políticas de desenvolvimento rural: assistência técnica, crédito rural, acesso à terra, insumos agrícolas, água, sementes, tecnologias, mercados de produção e comercialização. É preciso romper essa lógica para que de fato tenhamos valorização dos trabalhos desenvolvidos pelas mulheres nas mais diversas áreas”, fala.
Na opinião de Cristina Barbosa, é preciso que as mulheres sejam reconhecidas como ser político e de direitos dentro e fora de casa. Em ambos lugares, seja no contexto rural ou urbano, as mulheres exercem papéis fundamentais, construindo alternativas de viver melhor e com mais dignidade a partir de trabalhos que historicamente não tem tido a visibilidade merecida. “As mulheres podem estar onde decidirem estar, porém é um desafio constante termos que provar sempre esse direito de pertencimento”, defendeu Cristiana.
Ela acrescenta: “Esse desafio é nosso, de todas nós mulheres e também do Incaper. Na extensão rural, muitas vezes, esquecemos, de propiciar ações e momentos em nossa rotina de trabalho para evidenciar e valorizar o trabalho desenvolvido por mulheres agricultoras, pescadoras, ribeirinhas, quilombolas, e mulheres servidoras do Incaper. É necessário ter mecanismos para dar visibilidade ao trabalho de tantas mulheres que, em diferentes contextos, contribuem para e com o desenvolvimento rural capixaba”.
Nota: Este conteúdo foi produzido exclusivamente por mulheres. Juliana Esteves, Cristiana Barbosa, Suely Ferreira da Cruz e Jaqueline Sanz.
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