19/07/2019 17h28

Nova espécie de anfíbio é descoberta no Monumento Natural Estadual da Serra das Torres

Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), sob a coordenação da Dra. Jane C. F. de Oliveira e colaboração de alunos do Centro Universitário São Camilo encontraram no início de 2018 uma nova espécie de anfíbio no sul do estado do Espírito Santo nos remanescentes de floresta do Monumento Natural Estadual Serra das Torres (Monast),que abrange os municípios de Átílio Vivácqua, Mimoso do Sul e Muqui.

A espécie é agora a segunda que compõe o gênero Luetkenotyphlus. A primeira foi descrita há 168 anos, sendo agora as únicas duas espécies conhecidas neste gênero. Os registros da espécie foram feitos inicialmente durante inventários de anfíbios e répteis na Mata do Ouvidor, em Itapemirim. Em seguida foi incluída no inventário de anfíbios e répteis do Monumento Natural Serra das Torres, ambos em projetos compostos pelos mesmos pesquisadores. A parceria para a descrição taxonômica e da espécie foi feita com o Dr. Adriano Maciel, do Museu Paraense Emilio Goeldi que liderou as avaliações genéticas e morfológicas desta espécie até então desconhecida para a ciência.

Segundo a Dra. Jane C. F. de Oliveira que coordenou a expedição na Serra das Torres, onde foi obtido o maior número de registros da nova espécie, a Serra das Torres já revelou em estudos anteriores feitos, também pela equipe, a importante biodiversidade que tem guardada em suas florestas.

“Outros importantes estudos foram publicados para o Monumento, mas esta é a primeira espécie nova descrita para a Unidade e a primeira deste gênero que é endêmica do Espírito Santo. Luetkenotyphlus fredi mostra o quanto as matas da Serra das Torres são importantes para preservar espécies raras”, disse.

A pesquisadora afirmou ainda que a espécie nova encontrada na Serra das Torres a na Mata do Ouvidor parece estar associada a florestas preservadas, pois é um anfíbio que vive enterrado entre as folhas e a terra e que depende portanto de uma camada de folhas e de umidade adequada para sua existência.

“Na Serra das Torres a espécie foi encontrada nos municípios de Atílio Vivácqua e Mimoso do Sul, mas é provável que esteja distribuída em toda a região preservada do Monumento. Na Mata do Ouvidor ela foi encontrada apenas uma vez em uma parte preservada da mata. Nossa descoberta destaca a importância de estudos científicos para levantamento e conservação da biodiversidade, particularmente em tempos de regressão de políticas públicas relacionadas ao meio ambiente do Brasil”, explicou.

O Agente de Desenvolvimento Ambiental e Recursos Hídricos do IEMA, Guilherme Mendonça, destaca que essa descoberta reforça a importância da conservação do Monumento Natural Serra das Torres. “Pelo tamanho e relevância de sua cobertura florestal, as pesquisas ainda são relativamente escassas, contudo as que vêm sendo feitas têm confirmado a importância dessa Unidade de Conservação para conservação no Espírito Santo”, destacou.

Importância da descrição desta espécie

Luetkenotyphlus fredi é até o momento endêmica do estado do Espírito Santo e restrita às duas localidades onde foi encontrada (Mata do Ouvidor e Serra das Torres), ou seja, esta espécie não é conhecida em nenhuma outra parte do mundo até agora. A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas do mundo em biodiversidade e hoje é considerada um dos biomas mais ameaçados do planeta. A descoberta de uma nova espécie, reforça a necessidade de conservação dos remanescentes florestais do Bioma e indicam que podemos ter perdido espécies antes mesmo de conhece-las. Por isso, é essencial manter florestas preservadas em áreas protegidas, como o Monsat, além de fragmentos bem conservados em áreas particulares como a Mata do Ouvidor.

Nome da espécie

Luetkenotyphlus fredi é uma homenagem ao biólogo Dr. Carlos Frederico Duarte Rocha (Fred Rocha) pela sua imensa contribuição aos estudos de ecologia de anfíbios e répteis no Brasil e o Mundo e pelos significativos esforços para a conservação da Mata Atlântica.

Riqueza de Cecílias do mundo

As Cecílias são anfíbios, geralmente, difíceis de serem encontrados na natureza devido a seu hábito fossorial, ou seja, estão quase sempre escondidos no solo, e o único método até agora eficiente para coletá-los é cavando com enxadas ou ferramentas semelhantes, o que não é normalmente utilizado em levantamentos herpetológicos. Esta é a Cecília número 2013 do Mundo, e dez delas foram descobertas pelo taxonomista Adriano Marciel, vinculado ao Museu Paraense Emilio Goeldi e parceiro deste estudo.

Outros estudos importantes na Serra das Torres

Entre 2009 e 2012 outros estudos importantes foram publicados também sob coordenação da Dra. Jane de Oliveira, alguns deles destacam um dos menores sapos do mundo e o menor do Brasil encontrado pela primeira vez nos limites desta Unidade de Conservação, conhecido como Sapo-Pulga (Brachycephalus didactylus) e que embora já fosse conhecido no estado do Rio de Janeiro foi encontrado pela primeira vez no Espírito Santo, e até hoje continua sendo o único fragmento de floresta neste Estado onde encontramos este sapinho. Foi também o caso de outros dois anfíbios, Zachaenus parvulus ePhasmahyla guttata, que também eram conhecidos em outras localidades do Brasil, mas que continuam sendo os únicos registros para o Estado. Estas espécies também estão associadas a florestas preservadas e mostra o bom estado de conservação da Serra das Torres. Uma outra publicação mostrou que a combinação de profundidade da camada de folhas depositadas no chão da floresta e a cobertura do dossel são fatores que permitem a manutenção de espécies de anfíbios sensíveis a mudanças na conservação da floresta.

Os artigos com a publicação da nova espécie e das demais citadas podem ser consultados nos links:

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0044523119300786

https://biotaxa.org/cl/article/view/8.2.242

https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00222933.2013.769641

Projetos atuais

Os estudos que revelaram a espécie nova aqui apresentada ainda estão em andamento, sob coordenação da Dra. Jane C. F. de Oliveira que realiza outros estudos na Serra das Torres como o inventário dos répteis, dos anfíbios e ainda estudos que devem descrever outras espécies. A Mata do Ouvidor também continua sob estudo de inventário coordenado por um dos autores, o biólogo Thiago Marcial de Castro.

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