10/12/2024 16h50

Personalidades e instituições capixabas recebem Prêmio Estadual de Direitos Humanos

Aconteceu, na manhã desta terça-feira (10), a cerimônia do Prêmio Estadual dos Direitos Humanos, organizado pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos, com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH). A premiação, historicamente realizada no Dia dos Direitos Humanos — 10 de dezembro —, é a principal atividade da Semana de Direitos Humanos, que, este ano, tem como tema “Defesa da Vida nos Territórios: Direitos Humanos como Garantia do Bem Viver e pelo fim das Opressões!”.

A cerimônia foi realizada no Auditório do Instituto João XXIII, em Vitória, e reuniu personalidades e instituições que atuam na luta dos direitos humanos.

Na categoria personalidade, foram homenageados Adriana de Jesus Paranho (Baiana), Gilmar Carlos da Silva, Jacyara Silva de Paiva e João José Barbosa Sana. O Centro Cultural Eliziario Rangel, o coletivo Cidade Para Todos, o Fórum das Juventudes do Território do Bem (FJTB) e a Rede Mulheres Urbanas foram as instituições da sociedade civil que conquistaram a premiação.  

A secretária de Estado de Direitos Humanos, Nara Borgo, destacou a importância deste prêmio. “Este é um momento muito especial em que reconhecemos o trabalho desenvolvido pela sociedade civil nos mais diversos espaços e, ao mesmo tempo, nos dá a possibilidade de agradecer pelo empenho, luta e força destas pessoas que atuam diretamente nas comunidades, fazendo que os direitos humanos sejam garantidos e respeitados”, pontuou.

Confiram os homenageados da edição 2024 do Prêmio Estadual de Direitos Humanos:


Categoria Personalidade

 

Adriana de Jesus Paranhos (Baiana):

Adriana Paranhos, conhecida como “Baiana”, nasceu na Bahia e ainda adolescente chegou ao Espírito Santo. Desde então, reside em solo capixaba. Mãe solo de cinco filhos, avó e provedora do lar, “Baiana” tornou-se conhecida e é referencia por ser uma mulher negra a liderar uma ocupação. Atualmente, é um dos principais nomes pela luta por moradia e lidera a ocupação Vila Esperança, desde 2016.

Hoje, Adriana Paranhos batalha por moradia, mas também pelo fortalecimento dos territórios, fomentando projetos com os movimentos sociais desde doações para as famílias, ações na horta comunitária, reforço escolar, construção ecológica e formações para as mulheres. É membra do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM).

 

Gilmar Carlos da Silva

Residente há 32 anos em Central Carapina, na Serra, Gilmar dedicou sua vida à defesa dos direitos humanos e à promoção da cidadania. Cofundador do Projeto Legal e idealizador do Instituto Caminho do Bem, ele acolheu crianças e adolescentes na garagem de casa, transformando essa iniciativa em um espaço estruturado que, atualmente, atende 200 jovens diariamente, oferecendo acolhimento, oportunidades e esperança para um futuro melhor.

Como vereador da Serra (2013-2016), Gilmar ampliou sua atuação em prol da igualdade racial e dos direitos humanos. Criou importantes legislações, como o Dia Municipal da Mulher Negra, o Programa Serra Afroempreendedora e a política de cotas raciais em concursos públicos. Também presidiu a Comissão de Direitos Humanos e a Frente Parlamentar em Defesa e Promoção da Igualdade Racial, contribuindo para o combate ao racismo estrutural e à valorização da herança africana.

Na comunidade, liderou avanços significativos, como a construção de escolas, unidades de saúde e melhorias na infraestrutura local. É idealizador do projeto Prateleira Solidária, reconhecido nacionalmente com o prêmio “Periferia Viva: Resistência e Potência”, pelo Ministério das Cidades, valorizando ações comunitárias que transformam realidades e reduzem desigualdades.

A trajetória de Gilmar Carlos da Silva é um exemplo de amor ao próximo, justiça social e compromisso com a transformação de vidas, inspirando mudanças significativas em sua comunidade e no Espírito Santo.
 

Jacyara Silva de Paiva

Jacyara Silva de Paiva, mulher negra, filha de Ana Maria Batista e José Reis, ambos oriundos de comunidades periféricas de Vitória, ela do morro da Piedade e ele do morro do Alagoano, é mãe de Flávia Paiva, tendo como companheiro Flávio Paiva.

Iniciou sua trajetória profissional como educadora de rua, nas ruas de Recife, onde foi morar inicio da década de 1980. Lá conheceu educadores populares, o Movimento de Meninos e Meninas de Rua. O movimento negro e iniciou sua trajetória junto aos movimentos sociais. Foi em Recife que Jacyara Silva de Paiva cursou Pedagogia e iniciou seu curso de Direito, na mesma faculdade em que estudou Paulo Freire. 

Na década de 1990, retorna a Vitória e continua a atuar como educadora de rua, agora nas ruas de Vila Velha, onde atuou por mais de uma década, e na luta e denúncia contra a violência praticada nas ruas de Vila Velh. O próprio poder público à época terminou por retirá la das ruas como educadora. Foi quando resolveu cursar mestrado e doutorado, pesquisando pobreza, desigualdade social, crianças e adolescentes em situação de rua. Após aprovação no concurso público como docente da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ela inicia sua atuação nas bancas de heteroindentificação da Universidade (2018 a 2023) , tendo a oportunidade de receber estudantes negros que entravam pelas cotas, e também atuou como conselheira da comissão de ensino, pesquisa e extensão onde relatava demandas de estudantes da graduação. Foi relatora da proposta de cotas para pessoas negras, deficientes e trans na iniciação cientifica; cobra e defende de forma veemente políticas públicas de permanência para os estudantes negros e pobres na universidade; foi presidente da Banca Permanente de heteroindentificação de 2020 a 2023, coordenou o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Ufes de 2020 a 2022; foi vice-presidente da Associação de Docentes da Ufes (2022 a 2023), onde lutou de forma incansável pelo cumprimento da Lei de Cotas para Docentes Negros.

É docente do Centro de Educação e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Institucional; membra do grupo Observatório Opará, que monitora o cumprimento da Lei de Cotas em todo o País; faz parte do coletivo de Negros e Negras do Andes, onde atua contra o racismo estrutural e institucional; é dirigente sindical do Andes Sindicato Nacional; ministra a disciplina Práticas Educativas em Espaços não escolares, e, por meio desta disciplina, realiza inúmeras intervenções nos espaços educativos fora da escola em Vitória.

Escreveu o livro Caminho do Educador Social no Brasil e atua na pesquisa das seguintes temáticas: desigualdade social, racismo, pobreza e movimentos sociais. Enfrentou no ano de 2023 uma ameaça de exoneração por parte da Universidade Federal do Espírito Santo, e, graças a uma mobilização coletiva de milhares de pessoas em todo Brasil, junto ao movimento negro, movimentos sociais, pôde sair vitoriosa e permanecer na Universidade, podendo lutar para que este seja um espaço onde se celebre a diversidade e a prática dos direitos humanos.

 

João José Barbosa Sana

João José Barbosa Sana nasceu em 14 de junho de 1958, em Guaçuí, Espírito Santo. Tem graduação em Filosofia, Pedagogia e História. É especialista em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça; mestre em Educação e doutor em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

É casado com Tereza Cristina Ataíde Cápua. Tem quatro filhas (Domitila, Dandara, Ana Tereza e Maria Clara), um filho (Diego), dois netos (Ayrton e Alberto) e uma neta (Luísa). É associado do Centro de Apoio aos Direitos Humanos – ES (CADH), onde já atuou na equipe de formação; Participou da Comissão de Justiça e Paz e, atualmente, participa da CPDH, da Coordenação do Vicariato para Ação Social, Politica e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória – ES, da Coordenação da Rede Brasileira de Justiça e Paz e da Rede Estadual de Educação em Direitos Humanos do ES.

Foi um dos criadores do Fórum de Homens Capixabas pelo fim das violências contra as mulheres. Participa do Laboratório de Estudos de Gênero, Poder e Violência da Ufes (LEG-Ufes). É bolsista Capes e atua como coordenador de Tutoria na Superintendência de Educação a Distância da Ufes.

Categoria Movimentos Sociais e ou Organizações não Governamentais

 

Centro Cultural Eliziário Rangel

Fundado em 18 de novembro de 2016 pelo psicólogo Antônio Vitor, o Centro Cultural Eliziário Rangel (CCER) é uma instituição sem fins lucrativos de arte e cultura na cidade da Serra. Equipado com teatro, galerias, biblioteca, cinema, sala multiuso, estúdio de podcast, café-bar, residência artistica, área de convivência e um mirante com vista panorâmica para a cidade, o CCER é o primeiro e único empreendimento do gênero na cidade da Serra.

É batizado com o nome do líder negro abolicionista da Revolta de Queimado e recebe, em cada um dos espaços da instituição, nomes de outras personalidades pretas do Queimado como forma de preservar a memória das insurgências da cidade. A instituição tem o compromisso com a promoção, difusão e democratização de ações artísticas e culturais na sociedade serrana e capixaba, e desenvolve atividades continuadas sempre com a perspectiva de acessibilidade e do senso critico à realidade.

 

“Cidade Para Todos”

“Cidade para Todos” é um coletivo e laboratório urbano fundado em 2019, que une o sentir, o olhar social e estudos para transformar o viver a cidade. Inspirado na visão de urbanistas como Jane Jacobs, que viam as cidades como laboratórios vivos, o projeto promove a inclusão social e a igualdade, com a premissa de que "nada sobre nós sem nós".

Fundado por Jardel Júnior, um arquiteto e urbanista, nascido e criado na comunidade de Terra Vermelha, em Vila Velha, o coletivo busca construir cidades mais humanas, agradáveis e acessíveis, começando pelo fortalecimento das comunidades locais, por meio de participação cidadã. Atuando "de baixo para cima", ele acredita na construção sustentável e na cooperação de todos os que formam parte do território.

O “Cidade para Todos” também se destaca pela realização de ações urbanas táticas e intergeracionais, envolvendo pessoas idosas e jovens no “fazer cidade”, fortalecendo laços comunitários e demonstrando na prática o impacto da inclusão e da participação cidadã para transformar territórios. Reconhecido em editais do Estado, como os da Secretaria de Direitos Humanos e da Secretaria da Cultura (Secult), além de obter reconhecimento internacional pela Fundacion Carolina - Madrid, o “Cidade para Todos” é um exemplo de que a transformação urbana e social é possível, com a colaboração de todos que vivem e constroem a cidade. Com esta abordagem inovadora e comunitária, transforma realidades e inspira a busca por cidades melhores para todos.

 

Fórum das Juventudes do Território do Bem (FJTB)

O Fórum das Juventudes do Território do Bem (FJTB) foi criado no final de 2018 por três mulheres pretas da comunidade do TB, sendo ele consequência de um processo de atividades de diferentes juventudes do Território do Bem. O FJTB é um espaço estratégico de encontro e representações jovens, que visa a pensar e a discutir ações estratégias de intervenção, principalmente no que tange a questões relacionadas às juventudes, possibilitando novos olhares e sentidos, oportunizando o despertar do protagonismo jovem, de potencialidades e de representações positivas existentes no Território do Bem.

Em 2021, o FJTB conta com a participação de representantes de bairro ou coletivos juvenis, que são: Viella Films (atende todos os bairros), Tour no Farol (Da Penha e São Benedito), Bonde da Praça (Engenharia), Tec perifa (Itararé e Jaburu) e Território Cultural (atende todos os bairros), além de representações juvenis dos bairros que não integram nenhum coletivo.
 

Rede Mulheres Urbanas

Graffiteiras em rede na Grande Vitória e em outros municípios do Estado do Espírito Santo, iniciaram seus trabalhos em 2019, a fim de fortalecer e discutir o espaço das mulheres na arte urbana. Em 2020, realizam a primeira residência artística e continuam suas ações até o presente momento, por meio de mutirões de pintura e outras atividades de valorização da memória e presença das mulheres nas ruas.

 

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