17/08/2021 15h15

Reconhecimento: ‘cadernetas agroecológicas’ dão visibilidade ao trabalho de mulheres rurais e da pesca

Oficina com as pescadoras de Itapemirim, na Colônia de Pesca de Itaipava.

Em uma ação pioneira no Espírito Santo, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) capacitou mulheres para o uso das “cadernetas agroecológicas”. Tal método, já adotado em vários estados brasileiros, reforça o debate de gênero no meio rural e traz visibilidade ao trabalho das mulheres rurais e da pesca.

A ação é parte do projeto de pesquisa intitulado “A Política Estadual para as Mulheres Rurais e da Pesca: uma análise do impacto socioeconômico e ambiental a partir da mediação feminista”, contemplado no Edital de Banco de Projetos de Pesquisa, da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).

As cadernetas agroecológicas já são adotadas especialmente nos estados do Norte, Nordeste e em Minas Gerais, com o propósito de empoderamento feminino e redução das desigualdades de gênero no campo. No Espírito Santo, o projeto está sendo desenvolvido nos municípios de Anchieta, Boa Esperança, Itapemirim, Laranja da Terra e São Roque do Canaã e, dentre as mulheres envolvidas, estão pescadoras, indígenas, quilombolas, agricultoras agroecológicas e da agroindústria familiar.

A coordenadora do projeto no Estado, a extensionista do Incaper Alessandra Maria da Silva, explicou que, por meio das cadernetas agroecológicas, as mulheres registram informações de produção que, em sua maior parte, não são contabilizadas ou reconhecidas pela sociedade, nem pelas mulheres e familiares.

“São detalhes de informações que, às vezes, passam despercebidas, mas que são fundamentais quando se trata da economia familiar delas. Nas cadernetas agroecológicas, as mulheres registram o somatório do que produzem, consomem, vendem, doam ou trocam.  Por exemplo, se a mulher produzir algo apenas para consumo familiar, isso também se trata de uma renda, ainda que não seja advinda de uma venda direta. São detalhes que importam”, disse.


Para a presidente da Associação Mulheres da Pesca e membro da colônia dos pescadores Z10 e da Associação dos Produtores de Artesanato, em Itapemirim, Maura Bessi, a caderneta agroecológica tornou-se, de forma positiva, um “caminho sem volta”.

“Sou pescadora de água doce desde criança e, há vinte anos, comecei a trabalhar nas praias também. Recentemente, adotei essa prática e fiquei surpresa porque aprendi coisas que nunca imaginei durante tanto tempo. Eu tinha o hábito de anotar só o que eu produzia, vendia e as minhas despesas. Acredita que o que eu consumo e até o que já doei fazem toda a diferença na minha renda?”, comentou Maura Bessi.

Para Alessandra Maria, o método das cadernetas agroecológicas é um caminho que desenvolve e fortalece a autonomia econômica, social e política das mulheres. “Quando elas se tornam conscientes da sua contribuição para a economia familiar, consequentemente o seu trabalho faz mais sentido e é mais valorizado”, afirmou.

A próxima oficina será realizada nesta quarta-feira (18), no município de Boa Esperança, com as agricultoras da Associação Esperança Viva.

Entre os parceiros do projeto estão: Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP), Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Prefeituras dos municípios envolvidos, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

Texto: Tatiana Toniato Caus

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