Revista em acervo do Arquivo Público mostra como eram os carnavais há quase 100 anos
Anúncios de adereços, sugestões de fantasias, dicas de bailes: eram muitas as referências ao carnaval que ocupavam as páginas da Revista “Vida Capichaba” - periódico de maior expressividade e circulação no Espírito Santo no período de 1923 a 1954. Exemplares da revista, parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo (APEES), demostravam a ansiedade pelas festas e também destacavam as possíveis desilusões advindas do seu fim.
Por meio dos materiais pode-se conhecer um pouco mais das características das comemorações que agitavam a cidade e envolviam os moradores nos desfiles, na compra das roupas e nas danças nos salões.
A expectativa para a festa era grande, conforme mostra o trecho do artigo “O carnaval Vem Ahi”, publicado por Abilio Carvallho, em 1938: “O reinado delicioso do Momo, a época delirante do carnaval, constitui, há anos, a festa máxima do capixaba, onde não se determinam limites nem represas às avalanches de alegria e expansividade, que se desprendem da alma de cada um, influenciando no seu desdobramento contagiante, para o apogeu da loucura coletiva”.
Na edição de 13 de março de 1930, têm-se as novidades musicais que animaram os festejos. “O carnaval deste ano foi de grande fertilidade nos domínios da música típica dessa quadra. Aludimos ao êxito da marcha ‘No Reinado da Alegria’, música de Eduardo Souto e letra de Oswaldo Santiago, que é, sem dúvida a mais aristocrática das quantas composições apareceram no gênero. Em popularidade, pelos seus espíritos característicos, destacamos ‘Na Pavuna’, um estupendo samba de Candoca da Conceição com letra de Almirante, que leva vantagem sobre a fina peça de Souto, mas em prestígio e agrado perante os paladares mais exigentes, ‘No Reinado da Alegria’, deixa-os a grande distância”.
O autor da matéria, chamado Zito André, ressalta as novas músicas de sucesso, dentre elas “Yoyô Yayá”, de Josué de Barros, cantada pela estrela da fonografia nacional da época, Carmem Miranda, e a marcha “Chora” de Lamartine Babo. Afirma ainda que tiverem alguns fatos curiosos nessa área, como o fracasso de “Sinhô”, tido como o rei dos compositores populares cariocas, mas que falhou completamente e não teve nenhuma canção digna de simpatia pelos foliões.
Versos do Carnaval
A alegria da festa era constantemente exaltada nos versos: “Passemos, rindo. Dançando, a joça. Da vida, em troça. Piramidal. A gente nasce. Sempre chorando... Morrei, contando, no carnaval” diz um poema publicado em 1927. Jairo Leão, na edição de 28 de fevereiro de 1927, também aborda as emoções da comemoração: “O povo, que vê aproximar-se essa caravana de loucos felizes, começa a sentir-se satisfeito e nota-se que todas as cabeças se fixam em um ponto determinado e logo depois as palmas estouram demoradas e triunfais: é a perfeita demonstração da alegria que vai na alma popular”.
Porém, apesar de toda a comoção e sorrisos proporcionados pelo carnaval, os poetas não se esquecem da sua efemeridade e que, ao término das festas, as desilusões e tristezas da vida voltam a ser as mesmas, sendo a comemoração, muitas vezes, um disfarce das angústias da existência. Como versa o escritor Jose Mendonça, em uma poesia publicada na Revista em 1929: “No meu cismar um tanto extravagante. Ao ver essa alegria retumbante. Esse prazer feroz do carnaval. Chego a supor que o riso dos três dias. É a explosão de estupendas agonias. Que o mundo sente: é o pranto universal”.
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